quinta-feira

história cíclica

O cara tem 20 anos, sai da casa da namorada, por quem é apaixonadíssimo, pega a primeira que encontra na avenida, ela buzinou e perguntou onde era tal bar, ele inocentemente aceitou levá-la até lá, para logo estarem se agarrando dentro do carro numa rua bastante movimentada, com a centena de possibilidades de haver uma culpa atrás da árvore, outra na esquina mal iluminada, outra abrindo a janela para o flagra.
O cara tem 27 anos e está confiante em si mesmo, vê o mundo como algo que ele próprio constrói, uma questão de esforço físico, de paciência mental e de não se perder, até que descobre a mulher saindo com um que diz que é amigo, e os outros que se dizem amigos torcem para que ele meta um par de chifres bem dado na ingrata. Ninguém fala nada e ele se perde.
O cara tem 30 anos e acha que passou por todas as mazelas da vida, arranja uma menina para se divertir sans souci, só que engrena um ciúme e a menina vira ponto de honra na sua honradez, e ele começa a falar até que ela entenda as mazelas da vida, mas ela não tem que entender nada e isso o angustia.
O cara tem 35 anos. Toca a vida com a parceira que não é o seu ideal, mas ela também compreende bem o que é ser enganada. Constrói-se um mundo a parte, no qual o capacho da porta serve para limpar as mentiras de todos que entram ali, e geralmente entram só dois, até ela mentir e ele se enganar com a vida. Tudo isso num mundo que, ele já sabia, preza acima de tudo a ilusão.
O cara tem 40 anos e agora entende porque os adultos da sua infância eram tão permanentemente mal-humorados.

Nenhum comentário: