segunda-feira

CREATURaNdTRANSLATE 1


Bonecas finas de matéria mórbida
a arte feia dos artistas-talentos de nova orleães
apresenta o seu novo catálogo:
Shyla, feita de pedaços de bonecas estranhas
pela arte de rua dos estúdios elitistas
das sobras de povos pequenos
em modelos coloridos ou preto-e-branco padrão
top de linha com laço de fita de máquina
Bonecos verdes de parada-de-ônibus
ou na versão michês-de-ganho
em cinco cores e uma petite-surprise
Boneca japonesa inteiramente articulada
caçadora-coletora de 12"
na fina película assombrada da estrada
bonecasdoidas.com
Rostinhos redondos feitos sob encomenda
e garotas consideradas como rosas únicas
algumas esfinges de outono, miscelâneas só para o seu deleite
Inspirações divinas para curiosidades paranormais
sardinhas vestidas como senhoras deformadas
veja a golden edition com acessórios
Antigas medicinas de almas do além
tesouros de sótão, biologias anormais
menino-diabo conhecido como “o todo”
os bebês horríveis dos clowns de mama cow
nascidos da imperícia que só o desejo pode criar
tudo em ss-suzie.org
Nos termos de bunny love,
na versão de alguém preocupada com o que o relógio conta,
um edifício-lego com polly rapunzel estragada na sacada
com réplica de papel granitado
O repouso dos estupradores das facas
com motivos de morris nas paredes
riscadas e rasgadas à unhas de sangue
só em dois pontos abre parênteses LJ dois pontos fecha parênteses
Spocks esfarrapados de pano com buracos de bala
casados com coquetes góticas de marmelada
inventados pela máquina com nenhum nome
Duas menininhas dirigem fadas de asas quebradas
guiadas por fantoches encantados em direção aos estúdios invisíveis
direto dos laboratórios de pesquisa sobre muppets em cativeiro
Telas feitas por bonecas goddess e costumers extra-ordinaires
através da técnica de observar e coletar gnomos
– um manual sobre suas vidas diárias
Treblinko... o que ser isso?
Vodus de bonecos de vodu inspirados em modelos de moda outsider
com figurinos de argila da autopCia. – precisa dizer mais?
Moça de pano e de papel verde-musgo, depoimento:
“minhas bonecas são imagens montadas de myself
a minha autobiografia em períodos de tempo diferentes"
Bonecassinistras.com:
"cada boneca morre sua própria morte, a sua própria maneira
a maioria simplesmente cresce, umas se tornam sujas e desajustadas
– demasiado sujas e demasiado desajustadas
algumas começam a se deformar, muitas já vem danificadas
– invisivelmente danificadas, você sabe
em dado momento, quando morrem, são enterradas
na vitrine da loja 11/9 – usina de reciclagem do bem-estar”
{visite o local para algum divertimento}
 

sexta-feira

páginas pessoais I

fuçando arquivos antigos

V – Orbitando
18/12/1o(((×¢
Funcionando na base do pito e do pileque.
* * *
Metafísica física. É isso aí. É sobre isso que eu escrevo. Pirações que se concretizam e ficam maiores. Coisas que existem sem material algum.
* * *
Brigo com as drosófilas na minha casa, numa guerra declarada pela cerveja e pelo vinho.
 * * *
Chego no meio do redemoinho e penso no que é que eu estou fazendo aqui. Eu não era para estar aqui, mas estou. E aqui, onde é? O fundo da segunda garrafa de vodka em três dias. Toujours ivre e toda alma resumida na fumaça da guimba.
* * *
Lembrei do Tite de Lemos, que eu não conheci, mas li nos oitenta.
Eu o imagino – ele já morreu – feito um carioca branco, em Botafogo como em França, classe média de botequim, que entre um trago e outro se apaixona por todos os sonetos do mundo, por uma fórmula.
Parece que estou criticando, mas isso é uma mania: eu sou fã do Corcovado Park, das figuras digitadas pré-computador, no bicolor preto-vermelho mengão de parênteses ((((((( e parágrafos §§§§§§§§.
Ninguém o conhece. Pergunto pelo poeta Tite de Lemos na rede e é um tal de não sei quem é. Artista da máquina de esquecer, do fumar um e sujar a folha branca com a tinta da fita pós-alexandrina.
* * *
Soneto do sono. A primeira coisa que eu fiz guri, que eu me lembre, foi um soneto, coisa de velho, mas respirava o miasma punk da época, e era mais ou menos assim:

NA LUTA

Na luta, enluto a razão
e feito um lunático sem tato
esqueço da causa do fato
para a loucura dar vazão

No decorrer desse ato,
vejo-me a fugir feito um rato
da terrível constatação:
eu sinto, pelo ódio, paixão

Mas nessa época de tantas novidades,
no que difere um beijo na boca
de um soco no queixo?

Na fissura da luta, não enluto a paixão
mas só a percebo por um breve momento
como na curta duração de um simples beijo