sábado

o amor que dei para mim

amor que odeio, amor que não me ama e quer me
destruir
aos poucos
especializei-me em ti, dizia, o meu show
era só
para poucos
até que todos se foram e fiquei por aqui
com esse amor
pouco

mas por mais que seja pouco, ainda é amor
que se arrasta e me faz seguir
como cachorro de rua
a vigiar o nada a existir

domingo

a esmo

os homens são incapazes de fazer algo direito
tentam aprender competência com as máquinas
mas se frustam e entregam a elas seus afazeres vitais
daí - um belo dia - os computadores traem e enganam

* * *

fica combinado que não falamos mais sobre isso:
viver é justamente esquecer que vamos morrer
ou sempre estar lembrando disso, veladamente

quarta-feira

de ilusão

No país que eu imaginei um dia, no desenvolvimento da sociedade que lá vivia, a primeira fase era dominada por um pensamento mágico. O culto a uma deusa – dela não se pronuncia mais o nome – era dominante. Dessa antiga religião nada se sabe, mas mesmo hoje alguém deitará resmungando sonolento o nome dessa deusa em vão, repetidas vezes, sem saber o porquê, até adormecer.