domingo

sampa

as grandes avenidas viraram auto-estradas dentro das cidades, separando-as em favos de cidade, todas invariavelmente hexagonais.
cada favo é um mundo diferente a que chegamos através das paradas e das estações terminais que serpenteiam rápidas pelo chão e pelo ar.
no subsolo, japoneses, chineses e coreanos saem todos às ruas para se sentirem orientais e nós no Blade Runner – mas que lindo céu de domingo!
no subsolo também crescem moscas e baratas, no bairro industrial decadente explodido em fedores e ruídos da adolescência - da minha pelo menos.
coisas voam pelo ar e saem dos edifícios nas mais variadas formas de zepelins, aviões toda a hora, helicópteros finos e robustos, corpos, um elefante cor-de-rosa.
as torres são construídas para a propaganda e para abrigar as centenas de estações de rádio e tv que disputam a tapa as nossas almas e o mundo invisível.
a moça com pernas de estátua passa pela calçada deixando um rasgão perfumado na avenida empalidecida de fumaça.
outra moça apareceu aflita e só eu a percebi, nua dentro do túnel, ela brilha sozinha nas paredes de concreto que se abrem e se dividem em diferentes destinos.
e lembra quando imaginamos aquela gangue saindo do fundo da rua, apavorados, e sumiram na noite sem qualquer outra ocupação que tirar faíscas do asfalto com as correntes.
há uma guerra de cachorros acima e abaixo da superfície, das altas preces pelo dinheiro à baixaria na esquina; no meio, as pessoas transam.
um ônibus pega fogo na marginal e explode em mil cores para iluminar o lodo que flui em líquido negro e sinuoso rio, sumindo no horizonte emparedado.
um grão da grana de pó daquela mina para deixar na metade do que ela já está, então nos completamos nós dois e mais alguém.