segunda-feira

espelho meu



















espe.lho .m.eu
e sp e r o .q ue br ar .voc ê
.um .mon te...d e ..cacos
é .oq.ue .eu v.ou .pa.rec.er

quinta-feira

dois versos do desejo

desejo
algo que não existe
sozinho
em concretude
mas em pensamento

tudo que existe
perde para as construções do ar:
mais que qualquer estrutura
o que mais dura é
o desejo

quarta-feira

esfinge de outono

insect life
eu, que sempre te amei e nós nos amamos
em diferentes momentos da vida
quando concordamos, só nos demos o pior

eu, que nem sei mais quem eu sou
que quero viver sem nenhum drama
enquanto tu queres brilhar mais mais

no fundo, nada existe nesse mundo que não seja injusto
a gente se ilude que os controles da vida dependem de nós
e só nos desligamos, baby, desligamo-nos em nós

passará um certo tempo e não nos veremos mais
- nunca mais, e não adianta procurar
uma ciência estranha que nunca se revelará

segunda-feira

CREATURaNdTRANSLATE 1


Bonecas finas de matéria mórbida
a arte feia dos artistas-talentos de nova orleães
apresenta o seu novo catálogo:
Shyla, feita de pedaços de bonecas estranhas
pela arte de rua dos estúdios elitistas
das sobras de povos pequenos
em modelos coloridos ou preto-e-branco padrão
top de linha com laço de fita de máquina
Bonecos verdes de parada-de-ônibus
ou na versão michês-de-ganho
em cinco cores e uma petite-surprise
Boneca japonesa inteiramente articulada
caçadora-coletora de 12"
na fina película assombrada da estrada
bonecasdoidas.com
Rostinhos redondos feitos sob encomenda
e garotas consideradas como rosas únicas
algumas esfinges de outono, miscelâneas só para o seu deleite
Inspirações divinas para curiosidades paranormais
sardinhas vestidas como senhoras deformadas
veja a golden edition com acessórios
Antigas medicinas de almas do além
tesouros de sótão, biologias anormais
menino-diabo conhecido como “o todo”
os bebês horríveis dos clowns de mama cow
nascidos da imperícia que só o desejo pode criar
tudo em ss-suzie.org
Nos termos de bunny love,
na versão de alguém preocupada com o que o relógio conta,
um edifício-lego com polly rapunzel estragada na sacada
com réplica de papel granitado
O repouso dos estupradores das facas
com motivos de morris nas paredes
riscadas e rasgadas à unhas de sangue
só em dois pontos abre parênteses LJ dois pontos fecha parênteses
Spocks esfarrapados de pano com buracos de bala
casados com coquetes góticas de marmelada
inventados pela máquina com nenhum nome
Duas menininhas dirigem fadas de asas quebradas
guiadas por fantoches encantados em direção aos estúdios invisíveis
direto dos laboratórios de pesquisa sobre muppets em cativeiro
Telas feitas por bonecas goddess e costumers extra-ordinaires
através da técnica de observar e coletar gnomos
– um manual sobre suas vidas diárias
Treblinko... o que ser isso?
Vodus de bonecos de vodu inspirados em modelos de moda outsider
com figurinos de argila da autopCia. – precisa dizer mais?
Moça de pano e de papel verde-musgo, depoimento:
“minhas bonecas são imagens montadas de myself
a minha autobiografia em períodos de tempo diferentes"
Bonecassinistras.com:
"cada boneca morre sua própria morte, a sua própria maneira
a maioria simplesmente cresce, umas se tornam sujas e desajustadas
– demasiado sujas e demasiado desajustadas
algumas começam a se deformar, muitas já vem danificadas
– invisivelmente danificadas, você sabe
em dado momento, quando morrem, são enterradas
na vitrine da loja 11/9 – usina de reciclagem do bem-estar”
{visite o local para algum divertimento}
 

sexta-feira

páginas pessoais I

fuçando arquivos antigos

V – Orbitando
18/12/1o(((×¢
Funcionando na base do pito e do pileque.
* * *
Metafísica física. É isso aí. É sobre isso que eu escrevo. Pirações que se concretizam e ficam maiores. Coisas que existem sem material algum.
* * *
Brigo com as drosófilas na minha casa, numa guerra declarada pela cerveja e pelo vinho.
 * * *
Chego no meio do redemoinho e penso no que é que eu estou fazendo aqui. Eu não era para estar aqui, mas estou. E aqui, onde é? O fundo da segunda garrafa de vodka em três dias. Toujours ivre e toda alma resumida na fumaça da guimba.
* * *
Lembrei do Tite de Lemos, que eu não conheci, mas li nos oitenta.
Eu o imagino – ele já morreu – feito um carioca branco, em Botafogo como em França, classe média de botequim, que entre um trago e outro se apaixona por todos os sonetos do mundo, por uma fórmula.
Parece que estou criticando, mas isso é uma mania: eu sou fã do Corcovado Park, das figuras digitadas pré-computador, no bicolor preto-vermelho mengão de parênteses ((((((( e parágrafos §§§§§§§§.
Ninguém o conhece. Pergunto pelo poeta Tite de Lemos na rede e é um tal de não sei quem é. Artista da máquina de esquecer, do fumar um e sujar a folha branca com a tinta da fita pós-alexandrina.
* * *
Soneto do sono. A primeira coisa que eu fiz guri, que eu me lembre, foi um soneto, coisa de velho, mas respirava o miasma punk da época, e era mais ou menos assim:

NA LUTA

Na luta, enluto a razão
e feito um lunático sem tato
esqueço da causa do fato
para a loucura dar vazão

No decorrer desse ato,
vejo-me a fugir feito um rato
da terrível constatação:
eu sinto, pelo ódio, paixão

Mas nessa época de tantas novidades,
no que difere um beijo na boca
de um soco no queixo?

Na fissura da luta, não enluto a paixão
mas só a percebo por um breve momento
como na curta duração de um simples beijo

quarta-feira

experiência

Início da semana, acordo cedo para trabalhar e faço tudo lentamente. No banho quente necessário – ontem faltou água – achei que não devia ter pressa. A pilha de material ainda para arrumar, a barba por fazer, juntar o lixo. Não fui trabalhar nessa manhã.
Eu não entendi até agora o que foi que deu errado ou o que fez com que a gente desse errado. Falo isso diretamente para a mulher da minha imaginação. Porque vimos que era errado desde o início, só não entendíamos o que estragava tudo. O que nós fazíamos?
Veio mais uma resposta agora. Chega um momento em que não estamos mais abertos à experiência alguma: a experiência que nós já temos se intromete nas nossas vidas. Experiências que não se encaixam, mas insistem, raspam suas pontas, umas com as outras, rasgando com palavras duras.
Nada aconteceu e nós terminamos. Tu vais para um lado, eu vou para o outro: olhamos para o chão dos sonhos, meu bem, no universo paralelo das possibilidades infinitas.

segunda-feira

sci-fi

O homem moderno, na versão atual, é um autômato que intercala bebida e cigarro, grudado na web e, com os seus braços compridos de carbono e arame, está cansado de parar sua vida e ter que sair para trabalhar. Se eu me acostumar com as coisas se indo, sem dar bola para o fato de que elas só precisam de manutenção, é bastante previsível um fim medíocre em breve.

sexta-feira

vício

♪ pra Monstro
vício
mais uma vez só
vício
sem você, sugar
vício
me arranca o pulmão
vício
para o coração

vício
difícil

me internar
mais uma vez só
ser problema
mais uma vez só
fuder você
mais uma vez só...
vou mais uma vez só buscar diversão
num estado alterado de percepção

vício
difícil

(maconha, fumo, coca, cola, cafeína / heroína / cocaína,
  açúcar, álcool, foda e anfetamina)

fake it

♫ pra Monstro
what we need to do to stop suffering?
you know we gonna break up
why we'll be together even more
until it get worse?

crying and shutting things I won't say
I'd rather close to the world
maybe we can have a life in color
but even flowers fade like us

we would follow yet another season
as well day by day too
and the heart would begin to harden
slowly learning to pretend

any concern is so far from
a heart so hard that learns to fake
like words so hard
a heart so hard that learns to fake